31 December, 2008

L. bye '08

Nunca te sentiste no toque que te sinto?

As tuas mãos, a tua pele, é muito mais que contacto, é sentir profundamente o interior de um Nós, que acorrenta o que somos ao que não podemos ser.

O teu existir, o teu sabor, a tua boca e o teu encanto, elevam-se nas folhas de um livro qualquer, redigido por um génio qualquer, que nada mais declara que a sua própria existência em si, sem existir totalmente no espaço que ambos ocupamos.

Acabaria assim:

A tua ausência transmite a imagem de um deserto sem areia, de um espaço vazio, sem cor, sem luz, infinito no tempo e num espaço sem ar, sem aroma, sem brisa, sem mar, sem nuvens, sem chuva ou sol, onde um grito silencioso de desespero, que ninguém pode ouvir, entender, perceber ou agarrar, corta a impermeabilidade de um som profundo de um relógio que não pára, e que nem mesmo a força de Ser o pode suster.

A presença do teu olhar, confunde-se com o meu respirar. Sobrevivo nos teus cabelos, carrego as tuas dúvidas e rego as tuas incertezas, nelas deposito a invenção da minha presença real, no espaço imaginário em que a vida se manifesta intensamente.

A força que me resiste reside na essência das palavras que suavemente vagueiam pelo ar e dos desejos que navegam à deriva, no mar revolto e salgado de ondas feitas de improvisos.

 

PS - Hoje prestarei a devida homenagem aos deuses que nos observam, num copo de vidro claro, oferecerei as vestes de espuma branca, de uma colheita engrandecida pelo nome de um monge, brindarei ao futuro, e encerrarei o passado numa caixa de veludo azul-escuro. Comum. No teu lugar estará o luar, a certeza de um pensamento, de uma pequena lembrança, de um pequeno suspiro, e um beijo secreto trazido pela branda certeza do momento absoluto que corre no entretanto ausente. Sem sabor, sem saliva.

E em ti..um dia, uma noite. A vida, e só, meramente só, um espaço.

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