ensaio de desejo
No oposto da morte surge o desejo, e na arte do poeta que o prediz, solta-se a força da razão. A razão que nos faz perder o raciocínio lógico, da aparência real do nosso sentir.
A noite, o medo, a angustia, a invasão da malignidade inconsciente, é a sorte que nos carrega quando olhamos o nosso umbigo e ele nada nos diz.
Ao desfolhar o jornal da vida, encontramos as notícias sobre as nossas capitulações precoces, as tragédias que nos agudizam o ego, e nos tornam tão similares aos outros que nada nos dizem.
Ao fundo, a grande cidade. A cidade que nos enche, e nos frequenta por baixo do nosso corpo.
A norte, a geada, o cinzento prateado, os carris de uma linha que parece não ter fim.
A sul, a hesitação, o sol de Inverno, que derrete a saudade e a transforma em pequenos grãos de areia fina e harmoniosa.
No meu lugar, o traço que conta mais um dia, uma barreira branca, um cenário absorto, uma nuvem que passa e se dissipa no horizonte.
E no fim, tudo se torna estéril, sem glória, sem história, sem cultura, sem ventura, é a tragédia da sorte amaldiçoada pelos teus lábios, pelos segredos que me fascinam, pelo teu semblante litográfico.
E assim te desejo, e assim expiro, no extremo oposto da loucura que me consome.
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