02 November, 2009

já estou além onde não estou…

Nunca tive muita vontade de dizer adeus, nunca tivemos muita vontade de chamar pelos nossos próprios nomes, e pelas coisas que nos faziam viver os dias de sol e de chuva que simbolicamente usam e abusam dos números que passam a letras, e das letras que fazem as músicas, as sinfonias, os instrumentos que tocam no peso celestial do imediato. As nossas contas, que não se conseguem contar, os nossos caminhos que não se podem apagar do nada, e surgir do tudo, e do que não nos pode rodear. Fabricamos as ideias que nos colocam na luz as formas arcaicas do nosso porvir. Perdemos algumas horas de distância a pensar no que eu poderia escrever e contar, e surgiu o porquê.

Numa tarde, em que a terra não se tornava mais que o último destino do tempo, e que na sua roda de aventura, pela ventura da rodagem entre os mundos que a rodeiam, o Sol parou, mas não deixou de brilhar da mesma forma que havia brilhado nos tempos infinitos. Surgiu na floresta, do momento, que o movimento se subiu ao ser em flor, nasceu na penumbra a ilusão da existência de um pássaro, de uma flor, de um insecto que sorrateiramente se esgueirou pela planície, batendo asas infindáveis, às vezes, como o bater de um coração que nunca se queda em si…

Sobreviverei ao que o tempo reservou para mim? Não creio! Julgo findar-me aqui e agora. E assim me deixo guiar pela sorte que não tive, pelas horas que nunca me deram, pela injustiça de não poder sonhar um pouco mais além do que me resta esperar ter.

A oportunidade ficou ali, e eu aqui, com a dor que o corpo me dá, com a maldade do chão que piso, e da solidão de um pequeno espaço que não me deixa ver para lá do que não resta ouvir dizer.

E tanto mais podia fazer… tanto mais que não me resta…

Foste tu… Fui eu … tu para a vida, eu para a sorte do sim ou não das voltas do existir…

Como custa deixar tanto por partilhar… Como custa esperar sozinho pela noite que nos leva o pensamento e a ruína de um respirar.. e ele bate, lento, leve, e este sabor de azedo viver que me ensaia o gosto e o paladar… já não é saliva, já não é sangue…é fim.

E tu, que vacilas em acreditar no terror da verdade que me resta, chegarás a tempo?

“Estou além… onde não estou”

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