18 October, 2010

…quase

Ainda pior que a convicção do não, é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no Outono.
Pergunto-me, à vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos “bom dia”, quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor.
Mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Para os erros há perdão, para os fracassos, chance, para os amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar a alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste mais horas realizando que sonhando…
Fazendo que planeando…
Vivendo que esperando…
Porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

 

by Fernando Pessoa

15 October, 2010

…limpeza

Na semana passada, ao reler uma ideia sem sentido, confesso que me lembrei desta história que merece ser partilhada.

Trata-se de um delírio de uma mulher, que pensa existir num Mundo realmente hipotético e sem sentido.

E num cenário dantesco se desenrolou a cena, que passo a descrever:

Fechada numa casa, com a certeza da chuva que chove lá fora, mas que não chove por dentro. Pensa: Penso, logo resisto! E assim apanho a chuva com este olhar encostado na vidraça. Molho os meus sentidos pomposos e corridos, sem ver navios, pensou. Mas a noite não a deixou ver mais que o dia anterior.

Ontem, era tarde quando o cedo chegou, e ouviu quem jurasse a muletas juntas que as pernas deviam ser quatro para fugir dos dias mais depressa. Dizem. Não quis crer em tal verdade, sentou-se e leu o jornal. Era um jornal diário que às vezes era publicado anualmente, infelizmente era exemplar único. Talvez único em 100 anos de existência. Não tratava de informar, nem de desinformar, tratava de preencher tempos vazios com páginas vazias e publicidade que se enganava. Não gotejava muita tinta quando o escorria, mas sangue sim, e em abundância. Lia o que já sabia, alguém tinha morto alguém, porque não tinha nada melhor para acabar. Era óbvio, pensava, uma obra de arte, por assim dizer. Pior, sentia que havia razão de ser naquela ideia absurda de dar uma informação, que repito, não servia para informar, apenas para pintar páginas.

Era claro que ela só lia porque não chovia. Nesse tempo, a chuva ainda era escassa, as barragens estavam cheias de azeite em pó. Era uma calamidade brutal, mas que a ninguém interessava. A luz jorrava de fontes de fogo, e a água era trazida aos pacotes. Muitas vezes enviada pelo correio, o que se tornava bastante chato e trágico para os carteiros.

No fim do dia acabou por passear de mão dada com uma alcatifa, apesar de todo o barulho que os ácaros faziam a conversar, ela conseguiu manter-se serena e sossegada. Por fim, mandou cozinhar a alcatifa no microondas. Ainda não era hora de jantar quando resolveu almoçar, estava cansada e precisava de repouso. Invariavelmente chorava com as imagens da televisão, principalmente quando passavam programas legendados em sueco. Preferira sempre os programas dobrados, em dois ou em quatro, apesar de ficarem mais pequenos e a obrigarem a usar um telescópio. Acabou por se maçar com o dia que nunca mais terminava, e adormeceu em cima de uma prateleira. Ainda assim, leu três livros e alguns recados de vinte páginas. Bem encadernados por sinal. Isto tudo, enquanto dormia e lavava a loiça do dia seguinte.

Hoje, acordou bem disposta, mas com um sorriso invertido. Levantou-se, e caiu pelas escadas acima. Tomou o pequeno-almoço numa mesa enorme, maior que a própria fome, mas nem assim conseguiu deixar de comer. Tomou um banho de cereais, e penteou-se com uma caneta e um lápis azul. Bebeu um copo de perfume gelado e saiu janela fora.

Estava quase no fim do corredor quando começou a chover… Finalmente! – Exclamou.

Já era momento e invento, de se deixar cair água em vez de sapos e outros animais verdes.

Correu para casa, demorou alguns dias, mas ainda chegou a tempo de ser hoje… E encostou-se à vidraça, apanhando a chuva com o olhar enquanto pensava no dia de ontem…e resistiu-se a si.

Fazer escola não é falar de nós… fazer escola não é criar pelo nosso ódio. Não é real. Isso é uma idiossincrasia, é o alheio alerta de nós, o que de nós, não pode ser ambiente nos outros. Não me cuido ao pensar no que a essência me diz mas procuro saber o que posso lá encontrar.
Se a ti tudo te parece tão nada porque não o espalhas pelo inferno?
A boca fecha-se na linha do pensamento e não me lembro de escutar o eco de um sopro. Deixa. Assim bateram as asas do anjo nas rochas que preservam a sua extinção.…e a ela, tão longe de ser a real borboleta presa na…“Teia-de-Aranha exposta à loucura e ao tempo”, digo: Se o fizer, fiz, e morrerei sem o saber ter feito… viste?

05 October, 2010

Incondicional…

Mais que uma livre vontade,

mais que uma marca…

…um Mundo meu.

Onde vivo e glorifico as memórias…

…o amor amado e sentido, a história perdida.

Um “Basta!” Desmedido… medido na hora do agora sem tempo e espaço.

E os sonhos? Tantos e tão infinitos, tão deslavados de incertezas,

morrem onde o que resta do meu corpo morre…

 

Sonhei tão alto quanto podia…

…e agora? Agora deixo-me dormir num comboio sem qualquer destino.

..mais um pouco de nada

Todos os sonhos do Mundo… na realidade ensonada… na noite que passa em menos de nada…nada.

Tenho em mim apenas um sonho…e Pessoa, o Pessoa que me fala ao ouvido..

E pouco mais que nada…