…limpeza
Na semana passada, ao reler uma ideia sem sentido, confesso que me lembrei desta história que merece ser partilhada.
Trata-se de um delírio de uma mulher, que pensa existir num Mundo realmente hipotético e sem sentido.
E num cenário dantesco se desenrolou a cena, que passo a descrever:
Fechada numa casa, com a certeza da chuva que chove lá fora, mas que não chove por dentro. Pensa: Penso, logo resisto! E assim apanho a chuva com este olhar encostado na vidraça. Molho os meus sentidos pomposos e corridos, sem ver navios, pensou. Mas a noite não a deixou ver mais que o dia anterior.
Ontem, era tarde quando o cedo chegou, e ouviu quem jurasse a muletas juntas que as pernas deviam ser quatro para fugir dos dias mais depressa. Dizem. Não quis crer em tal verdade, sentou-se e leu o jornal. Era um jornal diário que às vezes era publicado anualmente, infelizmente era exemplar único. Talvez único em 100 anos de existência. Não tratava de informar, nem de desinformar, tratava de preencher tempos vazios com páginas vazias e publicidade que se enganava. Não gotejava muita tinta quando o escorria, mas sangue sim, e em abundância. Lia o que já sabia, alguém tinha morto alguém, porque não tinha nada melhor para acabar. Era óbvio, pensava, uma obra de arte, por assim dizer. Pior, sentia que havia razão de ser naquela ideia absurda de dar uma informação, que repito, não servia para informar, apenas para pintar páginas.
Era claro que ela só lia porque não chovia. Nesse tempo, a chuva ainda era escassa, as barragens estavam cheias de azeite em pó. Era uma calamidade brutal, mas que a ninguém interessava. A luz jorrava de fontes de fogo, e a água era trazida aos pacotes. Muitas vezes enviada pelo correio, o que se tornava bastante chato e trágico para os carteiros.
No fim do dia acabou por passear de mão dada com uma alcatifa, apesar de todo o barulho que os ácaros faziam a conversar, ela conseguiu manter-se serena e sossegada. Por fim, mandou cozinhar a alcatifa no microondas. Ainda não era hora de jantar quando resolveu almoçar, estava cansada e precisava de repouso. Invariavelmente chorava com as imagens da televisão, principalmente quando passavam programas legendados em sueco. Preferira sempre os programas dobrados, em dois ou em quatro, apesar de ficarem mais pequenos e a obrigarem a usar um telescópio. Acabou por se maçar com o dia que nunca mais terminava, e adormeceu em cima de uma prateleira. Ainda assim, leu três livros e alguns recados de vinte páginas. Bem encadernados por sinal. Isto tudo, enquanto dormia e lavava a loiça do dia seguinte.
Hoje, acordou bem disposta, mas com um sorriso invertido. Levantou-se, e caiu pelas escadas acima. Tomou o pequeno-almoço numa mesa enorme, maior que a própria fome, mas nem assim conseguiu deixar de comer. Tomou um banho de cereais, e penteou-se com uma caneta e um lápis azul. Bebeu um copo de perfume gelado e saiu janela fora.
Estava quase no fim do corredor quando começou a chover… Finalmente! – Exclamou.
Já era momento e invento, de se deixar cair água em vez de sapos e outros animais verdes.
Correu para casa, demorou alguns dias, mas ainda chegou a tempo de ser hoje… E encostou-se à vidraça, apanhando a chuva com o olhar enquanto pensava no dia de ontem…e resistiu-se a si.
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