19 February, 2008

os contos de ontem à tarde

Alto! Solitário perdão.
Perdido em mais um tempo que um relógio contou.
A volátil sensação de impotência, estampada na porta do teatro.

Não eram entes estranhos, eram pesos mortos pelo sofrimento da loucura.
A fusão da noite no dia, e na fé do crente, que não acredita na sua própria verdade.

Perguntei pela sensação de existir, a um mendigo mutilado de esperança.
Seria ele um ser menos sensato que a minha pergunta?

Respondeu, tossindo:

- Sangue..!!

E sentou-se na porta do teatro, representando a impotência da sua dor.
Não morreu de imediato, porque o vento o obrigou a respirar o fumo do papel queimado que lhe oferecia vida.

Perdi algum tempo a perceber o que significava aquela resposta, mas nunca o sangue, porque esse era tão humano quanto o meu. O existir não é mais que sangue – Pensei!

Palavra que o vi rico e sorridente, na poltrona mais cómoda daquela ilusão que ambos assistimos, mas escapou-me ao sentir o mais apurado odor.

É tarde, o espectáculo vai começar. Fechei a cortina, e saí rapidamente deste devaneio que me açoita a alma.

E ele ali ficou, na sua relativa fragilidade, bem mais forte que a minha própria vontade.

se não fosses tu, quem seria eu?

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