02 December, 2008

fragmento #1

Era tarde, o trânsito superficial da cidade corria normalmente, não havia horas para a morte de um dia chuvoso. O carro parou no semáforo, enquanto a musica da cidade batia nos vidros cerrados do carro de F.B.

O pisca cintilava, comunicando com o exterior a intenção presente de virar para o lado direito. Ao sinal de esperança, F.B. arrancou, e com um sentimento de não poder controlar o movimento, virou rapidamente à esquerda. E logo teve de se deter na passadeira, onde um cão usufruía o direito de peão. Afinal, era um peão comum, sem palavras. Parou em frente do carro de F.B. e fitou-o com um olhar inquisidor. Se fosse possível caracterizar o seu espanto, ele era de sobremaneira equivalente ao de um ser humano que acabara de ser surpreendido com a notícia mais estranha do mundo.

F.B. Não se conteve, e com um gesto brusco, abriu o vidro e com um tom imperativo, gritou “Sai!”, o cão ainda mais espantado, sobrelevou uma das orelhas, e ladrou de uma forma brusca, como se respondesse a F.B. na mesma moeda."Cala-te estorvo. Fecha a boca clara, e não digas mais a palavra que te proíbe de falar sobre o que não te respeita."

Finalmente, avançou pela estrada, desconfiado das atitudes daquele condutor, que acidentalmente sub valorizou a sua própria vontade, na sua decisão de virar à esquerda, se é possivel falar em decisão. O facto é que a decisão tomada anteriormente, não é a mesma atitude tomada pelo corpo e pelo movimento. (...)

 

(Talvez seja a verdadeira estrada que nos leva a encontrar o olhar que te toca a cada passo que dás, em busca do que não podes esconder.)

Estava presente no começo do conto que não posso apagar, nem acabar.

No comments: