Conto uma história secreta, só para me perder:
A praia seduz-me, realça os meus sentidos mais profundos, ressoa o grito da minha alma. Em todo o caso deito o corpo na areia, moribundo, olho o céu, e não imagino o seu fim. Não imagino o meu.
A areia sabe a mar, o mar sabe a sal, o sal sabe mal, e não sobra nada para lá do sabor que só eu posso sentir. Mas gosto do sabor da areia, do cheiro do mar, da queimadura do sal, e de tudo o que me possa fazer mal.
Gosto pouco de mim, mas gosto de me querer ver vivo, mais do que posso imaginar. Como tanto posso crer, sem nunca querer ser, para lá dos limites do céu e de um qualquer olhar..
E aqui penso, e aqui falo para aquela criança que vive dentro de mim:
(Uma criança, uma incerteza. Olha, é o poema que sobra. Que qualidade, a do infinito.Longe de mim querer ser, pertencer, ter ou poder. Nada, vazio, rude, despido. Sou!)
- Sobrevivo, pouco, mas vivo. Respiro.
- A minha consciência é esta, é tudo, é nada, é o que me resta, e pouco ou nada mais do que vai deixar de ficar e ser.
- E o mar? E a areia? E o sal? E tudo o resto, que não nos resta na consciência de existir? - Pergunta a criança.
- Continuará a existir sem a nossa consciência, mas deixará de existir em nós, para nós!
- O que nos envolve é feito na nossa medida, não somos produto, não somos produtores, somos apenas conscientes de uma imaginação absolutamente casual. A realidade não é a base da existência total, é um pequeno espaço que nos dá a ilusão do movimento, é apenas um suporte para a generalização natural do ser. É trágico, mas é um facto.
(Continua…)