04 June, 2009

nonsense (com medo do escuro)

Charllote perdeu os sentidos no seu dia de folga, faltou ao emprego porque não era preciso trabalhar. Vivia de subsídios, daqueles que o Estado paga aos que não gostam de pagar.

 

Charllote encontrou o seu carro desarrumado, era vulgar esquecer-se de o arrumar, por isso apanhou um autocarro para a baixa. Felizmente estava trânsito, deu para chegar uns trinta minutos atrasados ao funeral do seu noivo, ninguém se importou, até porque estavam todos no café a jogar às cartas.

 

Adiantou serviço, pegou na pá e bateu com ela no solo, o padre foi-se embora, e o café fechou para balanço.

 

Saiu ao pé-coxinho, mas ficou encravada na porta do cemitério, uma sexagenária tropeçou no ferrolho do portão e provocou uma fila nunca antes vista. Charllote apanhou um táxi, e saiu na primeira curva. Entrou numa livraria que tinha acabado de ser inaugurada e pediu um gelado de nata, sentou-se e cortaram-lhe o cabelo.

 

Passados 3 minutos desistiu de ser pessoa, tornou-se uma ave de rapina. Não foi uma boa escolha porque começou a chover.

 

Foi a nado até casa, estava estafada, mas quando chegou a casa, a sua casa já não era ali, era do outro lado do Mundo, disse-lhe um rapaz que passava por ali a assobiar com um palito nos olhos.

 

Ficou para morrer, mas conseguiu sobreviver graças a um raio que lhe atingiu a ponta do bico, ficou num estado lastimoso, parecia uma avestruz, que para ave de rapina não é muito apropriado.

 

Desceu a avenida a cantarolar uma música que nunca foi feita, descobriu isso quando alguém a fustigou com um pedaço de pão duro e seco. Calou-se e rastejou até ao cais.

Tirou do bolso uma balança e pesou as consequências, estava tramada, ou a balança avariada, mas por via das dúvidas suicidou-se antes que fosse tarde.

 

Mais tarde adormeceu a ouvir os barcos a descarrilar, sonhou profundamente, e ali pereceu, afogada na eternidade…

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